Até na morte o Jornal é vida !
Depois da morte de meu pai, reencontrei-me com um amigo da infância. Este voltar a viver momentos de há quase 50 anos, até agora só foi possível por e-mail. Ele, Antonio Santos Duarte colabora com o Jornal da Minha Terra: “O Correio de Unhais”. Num dos nossos contatos, contei-lhe minha experiência ao visitar pela primeira vez a tumba de meu pai. Antonio teve a generosidade de escrever um artigo sobre este fato, coisa que lhe agradeço, por agora com um muito obrigado. Espero poder fazê-lo em forma pessoal, lá no nosso Unhais da Serra.
Quero compartilhar com meus amigos este artigo, é uma forma mais de homenagear o meu pai.
Después de la muerte de mi padre, me reencontré con un amigo de mi infancia. Este volver a vivir momentos de hace casi 50 años, hasta ahora solo ha sido posible por e-mail. Él, Antonio Santos Duarte colabora con el diario de mi tierra: “O Correio de Unhais”. En uno de nuestros contactos, le conté mi experiencia al visitar por primera vez la tumba de mí padre.
Antonio tuvo la generosidad de escribir un artículo sobre este hecho, cosa que le agradezco, por ahora con un muchas gracias. Espero poder hacerlo en forma personal, en nuestro Unhais da Serra.
Quiero compartir con mis amigos este artículo, es una forma más, de homenajear a mi padre.
“Emocionei-me profundamente quando visitei pela primeira vez a tumba de meu pai no cemitério e pude ver sobre ela o Jornal. Minha mãe o tinha levado lá, sabia que era o que ele mais apreciava, o Jornal de Unhais da Serra.”
Aconteceu na longínqua cidade de Buenos Aires. Dificuldades conhecidas por todos os portugueses, levaram Aleixo Duarte Canas e outros a emigrar para a Argentina, no início dos anos sessenta. Recordo bem a partida de seu filho que andava comigo na escola primária, António Antunes Canas, que é hoje Conselheiro do Governo Português, junto da comunidade portuguesa naquela pais., recordo dizia, a sua partida como se fosse hoje. Talvez o mais inteligente aluno do professor Abranches, na escola da Rua da Levada em Unhais da Serra.
Partiram e durante muitos anos nunca mais tive notícias desta família de emigrantes. Recordo há bastantes anos um artigo neste jornal, onde António falava da Madre de Dios, referindo-se à Senhora da Estrela no Covão do Boi.
Nos últimos quinze anos a esta data, surgiu em Unhais um jornal, que para além da sua importância como jornal, portador de notícias da terra natal junto das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, foi também o impulsionador do regresso de muitos filhos à sua terra.
Aconteceu precisamente com a família Canas, que desde então começou a vir a Portugal com alguma frequência e também o director do Jornal, se deslocou a Buenos Aires, a convite destas famílias.
O jornal de Unhais começou então a ser para Aleixo Duarte Canas, o amigo mais desejado. Quando recebia o Jornal com as noticias mais recentes da terra que o viu nascer, era uma alegria. E assim aconteceu durante muitos anos. O seu grande desejo era regressar a Portugal e acabar aqui os seus dias, mas tornar-se-ia à partida uma missão quase impossível.
No meio deste sonho, Aleixo Canas partiu para a grande viagem no ano passado. Para a família foi perda muito grande e seu filho António, numa carta que me dirigiu e que foi publicada no nosso jornal, afirma que, de momento, o seu grande desejo é vir a Portugal, na ânsia de encontrar seu pai no Bairro dos Barreiros ou no adro da igreja a falar com os amigos.
Num destes dias de Setembro comuniquei ao António Canas, que o director do jornal estava doente e internado no hospital, dizendo-lhe também, que tínhamos que tratar da sua saúde, pois o director é uma peça fundamental para o património cultural da nossa terra. Ao receber esta notícia, António enviou-me um correio que diz o seguinte:
“ Fiquei muito preocupado com a notícia sobre o estado de saúde do Senhor Silvestre. Oxalá que tudo saia bem. Concordo plenamente com tua apreciação sobre quanto significa para Unhais da Serra, uma personagem da riqueza intelectual de Silvestre Gaudêncio. Já tem um lugar reservado na história dos últimos 60 ou 70 anos da Nossa Terra.
Somente os que estamos tão distantes de Unhais da Serra, sabemos o valor que tem o Correio de Unhais. “Emocionei-me profundamente quando visitei pela primeira vez a tumba de meu pai no cemitério e pude ver sobre ela o Jornal. Minha mãe o tinha levado lá, sabia que era o que ele mais apreciava, o Jornal de Unhais da Serra.”
Emocionei-me o que baste, para partilhar com os outros esta vivencia da família Canas em Buenos Aires. Interessante também o testemunho de António Canas e da importância suprema talvez, da imprensa portuguesa em geral junto das comunidades portuguesas no mundo.
“ Lamentar as medidas impopulares do Governo à imprensa regional, com a redução das ajudas”
Falar de jornais é falar de objectos que se tornaram banais, normais, como o telemóvel, a novela, o futebol, etc. Já ninguém nota a importância do jornal no quotidiano. No café, no restaurante, em todo o lado onde haja gente está o jornal ou até vários jornais. Mesmo que não se leiam, o que infelizmente por vezes acontece, o jornal lá está para quem queira ler. Ultimamente a imprensa escrita, mais precisamente a imprensa regional, foi vítima de uma agressão violenta por parte do Governo, que reduziu substancialmente o valor do porte pago e criou problemas de vária ordem, com exigências demasiadas, para jornais que muitos deles, e é este o caso, são fruto de trabalho de carolice.
O Governo esquece-se dos milhões, que ao longo dos tempos a emigração tem colocado em Portugal e dos seus efeitos mais que positivos na economia nacional, esquecendo-se também da importância da imprensa regional nas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. A imprensa tem falado imenso sobre este assunto, mas a arrogância sobrepõe-se à humildade da emigração. Apesar de tudo isto... a imprensa nunca morre.
António Santos Duarte
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